terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Fora de mim - Martha Medeiros

É a pior morte, a do amor. Porque a morte de uma pessoa é o fim estabilizado, é o retorno para o nada, uma definição que ninguém questiona. A morte de um amor, ao contrário, é viva. O rompimento mantém todos
respirando: eu, você, a dor, a saudade, a mágoa, o desprezo – tudo segue. E ao mesmo tempo não existe mais o que existia antes. É uma morte experimental: um ensaio para você saber o que significa a morte ainda estando vivo, já que quando morrermos de fato, não saberemos. Então é isso que começo agora, minha trajetória de morta-viva, com algumas horas mais mortas, outras mais vivas, dependendo do que me chega, se um convite
para uma balada ou uma lembrança corrosiva que abate e me destrói. A cada meia hora, um estado de espírito diferente. À noite, meu cansaço é igual ao de  um maratonista, é como se eu tivesse atravessado dezenas de quilômetros, entre subidas e descidas. Mas,ao contrário do que acontece nas atividades físicas, as
descidas são as que mais consomem minha energia.
pág. 50,51

Nenhum comentário:

Postar um comentário